quinta-feira, 1 de outubro de 2009

NOTICIAS SURDOS‏

Rafael Emil
Um estrangeiro no seu próprio país
Por Elian Balbino
Da Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR

A Constituição Brasileira garante. O decreto de nº 3.298, publicado em 20 de dezembro de 1999, regulamenta a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, garantindo o pleno exercício dos direitos individuais e sociais dessas pessoas. Isso quer dizer que, entre outros pontos, os portadores de necessidades especiais podem prestar concursos públicos com a mesma igualdade de direitos dos outros candidatos. Mas a realidade não é bem essa. Por possuir uma linguagem própria – Libras- os surdos veem nas seleções públicas um objetivo difícil, justamente por conta da diferença para o português.
Apesar de as provas contarem com um intérprete de Libras, a maior dificuldade dos candidatos é a interpretação, muitas vezes subjetiva, dos textos e das perguntas. Estudos comprovam que aproximadamente 97% dos surdos nascem de pais ouvintes, o que fazem com que seja formada uma lacuna na área lingüística, já que o primeiro contato não é com o português, e sim, com a Linguagem Brasileira de Sinais.
Rafael Emil, 24, explica: "O intérprete está ali para traduzir o português para a Libras e não para interpretar a prova". Foto: Elian Balbino/DP/D.A Press
A dificuldade para participar de uma seleção já começa na hora de se preparar. “O mercado não dispõe de recursos especiais para que os candidatos possam estudar. Não existem dvds em Libras com o conteúdo das provas. No máximo, eles encontram obras específicas, da literatura brasileira, o que obriga os concurseiros surdos a estudar pelos livros e apostilas tradicionais, que possuem uma linguagem de difícil compreensão para eles”, observa Adriana Di Donato, professora de Libras do departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernambuco.
O acesso tardio à língua portuguesa é, portanto, o maior entrave que os surdos encontram durante o longo caminho de um concurso público. Geralmente as crianças surdas só têm acesso à escola por volta dos seis anos de idade. “Além disso, os colégios não possuem uma metodologia específica para esse público. É daí que se cria a falsa ideia de que os portadores de surdez só convivem entre eles e se isolam da sociedade. Muita gente pensa no surdo como deficiente e não numa pessoa que fala uma outra língua”, ressalta a professora.
Diferentemente do português, que é baseado nos recursos orais e auditivos com o auxílio da escrita, a Libras é fundamentada no espaço visual, que tem como conceito a movimentação da mão, num determinado espaço, sendo auxiliada pelo conjunto da expressão gestual, facial e corporal.
Essa foi uma das dificuldades enfrentadas pelo vice-presidente da Associação dos Surdos de Pernambuco, Rafael Emil, de 24 anos. Há dois anos ele participou de uma seleção pública. Mesmo com a cota obrigatória de 5% para candidatos portadores de deficiência , os concursos não conseguem preencher essas vagas. “O intérprete está ali para traduzir o português para a Libras e não para interpretar a prova. É esse o ponto de maior dificuldade para nós”, explica Rafael. Ele lembra que, dos 25 candidatos que prestaram provas na seleção citada, nenhum foi aprovado.
Para percorrer a contramão da exclusão, Rafael cursa Letras com especialização em Libras, curso superior ministrado a distância pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Quero ser professor de Libras e ajudar no processo de inclusão dos surdos na sociedade”, defende.
Na opinião de Adriana Di Donato, a aprovação de um surdo num concurso público é o resultado, acima de tudo, da dedicação e da vontade de vencer. “A dificuldade que eles têm de compreender o português faz com que eles se sintam estrangeiros dentro de seu próprio país. Por isso, além da determinação para obter êxito nas provas, é preciso que o surdo dependa de fatores - que acabam se tornando excludentes - como a vivência em boas escolas e o convívio com ouvintes falantes do português”. Um contrassenso com a diretriz que rege o país e que deveria garantir, na prática, direitos iguais a todos os cidadãos.

ARTISTAS SURDOS ENCENAM PEÇA TEATRAL EM VILA VELHA30/09/2009 - 13h19 (Guido Nunes - gazeta online)
Nelson Pimenta durante encenação da peça
A inexistência de barulho é um desejo para muitos, mas para os surdos é uma rotina diária de desafios e de adaptação a uma realidade cada vez mais insurdecedora. Em comemoração ao Dia Nacional do Surdo, celebrado no último dia 26 de setembro, funcionários com deficiência auditiva da Chocolates Garoto e outros convidados assistiram a um espetáculo encenado por atores surdos, nesta quarta-feira (30).
A peça bilíngue "Nelson 6 Ao Vivo" é estrelada pelo ator surdo Nelson Pimenta e narrada em "off" pelo professor Luiz Carlos Freitas. A encenação trata a questão da surdez de forma bem humorada. A reportagem conversou com Pimenta por meio da tradutora Fernanda Nogueira, e ele nos contou como é a sensação em cima do palco.
"O público é algo diferente na peça mostrando um surdo por meio da língua de sinais e mostra a história. Em vários lugares e outras cidades as pessoas gostam pois estou apresentando a cultura e a identidade surda. É legal que é um teatro bilíngue, então não tem separação de surdo e ouvinte. Eles podem conhecer mais a cultura surda e o público gosta bastante", disse o ator.
O ator Nelson Pimenta se especializou em encenação para surdos em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e atualmente transmite esse ensinamentos por meio de palestras no país. "Quando eu comecei antes da formação e aqui no Brasil não existia uma especialização com foco no surdo ator. Tive que ir para os EUA onde procurei uma formação e vi que lá essa questão do surdo ator é grande e trouxe isso para o Brasil."
O Dia Nacional do Surdo é comemorado em todo o país no dia 26 de setembro, data em que foi inaugurada a primeira escola para surdos no Brasil. A data relembra as lutas por melhores condições de vida, saúde, trabalho, dignidade, educação e cidadania.

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